ATA DA QUADRAGÉSIMA QUARTA SEXTA SESSÃO
SOLENE DA PRIMEIRA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA LEGISLATURA, EM 129-10-1989.
Aos doze doezenove dias
do mês de outubro do ano de
mil novecentos e oitenta e nove, reuniu-se, na Sala de Sessões do
Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre, em sua Quadragésima QuartaSexta Sessão SOrdináriaolene da Primeira
SessãoDécima Legislativura Ordinária da Décima Legislatura, destinada àa entregaconcessão do Título
Honorífico de Cidadão de
Porto Alegre Emérito ao Senhor Francisco Thompson Flores Netto, concedido através do Projeto de Lei do
Legislativo nº 117/89 (Proc. 2162/89). engenheiro Fúlvio Celso Petracco,
concedido através do Projeto de Resolução n 35/85 (Proc. Nº 2604/89). Às
dezessete horas e quarentatrinta e cincoquatro minutos,
constatada a existência de “quorum”, o Sr. Presidente declarou abertos os
trabalhos e solicitou aos Líderes de Bancada quea conduzissemrem ao Plenário as autoridades e
personalidades presentes. Compuseram a Mesa: Ver. Valdir Fraga, Presidente da Câmara Municipal de
Porto Alegre; Dr. Pedro
Simon, Governador do Estado
Rio Grande do Sul; Dr. Tarso Genro, Prefeito de
Porto Alegre em exercício; Embaixador Francisco Thompson Flores Netto, Homenageado; Ministro Carlos Thompson Flores,
ex-integrante de Supremo Tribuna Federal; Dr. Telmo Thompson Flores, ex-Prefeito de Porto
Alegre; Ver. Isaac Ainhorn, Primeiro Vice-Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre; Ver. Clóvis Brum, Segundo
Vice-Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre. Após, o Sr. Presidente convidou
os presentes a, de
pé, ouvirem a execução do Hino Nacional. Fez pronunciamento alusivo à
homenagem, destacando o papel fundamental do Homenageado nas
conversações relativas à integração entre o Brasil e a Argentina; e, a seguir concedeu a palavra aos oradores que falariam
em nome da Casa. O Ver. Isaac Ainhorn, em nome
das Bancadas do PDT, PDS, PSB, PL e PFL, discorreu sobre a atividades do Homenageado como Embaixador e
sobre seu nascimento na Bélgica, em virtude de estar o pai do Sr. Thompson
Flores Netto exercendo funções diplomática naquela País. Definiu o termo cidadania e asseverou se tratar, a entrega deste Título ao Homenageado,
de uma justa retificação de cidadania. E o Ver. Clóvis Brum, em nome das Bancadas do PMDB e
do PT, congratulou-se
com a indicação do Gov. Pedro Simon para que esta Casa homenageasse o
Embaixador Francisco Thompson Flores Netto, declarando se tratar de “ilustre Homem das
Relações Exteriores” e que vem se dedicando à viabilização dos projetos de
integração entre
Brasil e Argentina. Em continuidade, o Sr. Presidente concedeu a palavra ao Dr.
Tarso Genro, Prefeito Municipal em exercício, que discorreu sobre os serviços prestados pelo
Embaixador Francisco
Thompson Flores Netto em prol da incrementação das relações entre os Países do Cone-Sul, da iniciativa do Gov. Pedro
Simon na busca dessa integração, e do orgulho da Cidade de Porto Alegre e de seu povo em conferir-lhe esse Título. Após, o Sr. Presidente procedeu à leitura do Título Honorífico a ser concedido, convidou os presentes a, de
pé, assistirem a entrega do Título de Cidadão
de Porto Alegre ao Sr. Francisco
Thompson Flores Netto, pelo Dr. Tarso Genro, e de Medalha, pelo Dr. Pedro Simon. E em
continuidade, concedeu a palavra ao Sr. Embaixador Francisco Thompson Flores
Netto, o qual falou das profundas ligações de sua família com esta Cidade e de sua frustração por ter nascido longe de
sua Pátria. Discorreu sobre a importância do recebimento desse Título e do seu orgulho em poder denominar-se “Cidadão de Porto
Alegre”. O Sr.
Presidente concedeu, ainda, a palavra ao Gov. Pedro Simon, que discorreu acerca
do desempenho e
relevância do trabalho do Embaixador Francisco Thompson Flores Netto na
aproximação entre o Brasil e a Argentina, e da importância de que tais relações se façam
através do Estado do Rio Grande do Sul. Congratulou-se com a Câmara Municipal de Porto Alegre pelo
acolhimento da sugestão
e do preenchimento da lacuna relativa à cidadania do Sr. Embaixador, afirmando orgulhar-se a Cidade
e o Estado por tão
nobre Cidadão. Em continuidade, o Sr. Presidente convidou
os presentes a, de
pé, ouvirem a execução do Hino Riograndense. Às dezoito horas e quarenta
minutos, o Sr. Presidente convidou as personalidades e autoridades presentes
a passarem à Sala de Presidência e, nada mais havendo a tratar, levantou os trabalhos,
convocando os Srs. Vereadores
para a Clóvis
Brum, Segundo Vice-Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre, no exercício
da Presidência dos trabalhos; Engenheiro Fúlvio Celso Petracco, homenageado; Dr. Tarso
Genro, Vice Prefeito de Porto Alegre; Deputado Estadual Jauri de
Oliveira, Líder da Bancada do PSB na Assembléia Legislativa do Estado do Rio Grande
do Sul; Ver. Omar Ferri, Líder da Bancada do PSB, neste
Legislativo Municipal e, na ocasião Secretário “ad hoc”; e Srs. Teresinha
Petracco Grandene, irmã do Homenageado e representado os demais familiares. A
seguir o Sr. Presidente manifestou-se sobre a homenagem que este Legislativo
prestava e concedeu a palavra aos oradores que falariam em nome da Casa. O Ver.
Leão de Medeiros, em nome da Bancada do PDS, ressaltou qualidades do homenageado,
especialmente no âmbito político, profissional e pessoal. E, relatando aspecto
da vida do Sr. Fúlvio Petracco, prestou suas homenagens ao mesmo. O Ver. Flávio
Koutzii, em nome da Bancada do PT, manifestou sua satisfação em encontrar o homenageado,
relembrando passagens de lutas empreendidas na militância política em prol das
classes populares. O Ver. Omar Ferri, em nome da Bancada do PSB, do PCB, em
nome do PC do B, registrou a presença de militantes do Partido Socialista
Brasileiro no Plenário, em solidariedade à homenagem que é prestada por esta
Casa ao Sr. Fúlvio Celso Petracco, destacando luta que há muito S. Sª tem ensinado aos seus Partidários.
Esclareceu circunstâncias que levaram S. Exª a ingressar no PSB. E, saudando o
Ver. Elói Guimarães pela iniciativa da proposição, parabenizou-se com o Sr.
Fúlvio Petracco. E o Ver. Elói Guimarães na condição de autor da
Homenagem e em nome da Bancada do PDT, dói PTB, do PL e
do PMDB, referindo princípios que presidem a outorga do Título Honorífico,
ressaltando que a presente homenagem é concedida em reconhecimento ao trabalho,
ao talento, à pessoa do Sr. Fúlvio Petracco, de quem destacou qualificações.
Relembrou episódio protagonizado pelo homenageado quando do Movimento de Legalidade, e
do Golpe de Mil Novecentos e Sessenta e Quatro, a
postura política de S. Sª em campanhas eleitorais. E augurou que o Homenageado
ainda muito contribuía na busca de uma sociedade mais justa. Em continuidade, o
Sr. Presidente concedeu a palavra ao Dr. Tarso Genro, Vice-Prefeito Municipal,
que em nome do Executivo Municipal, prestou homenagem ao Sr. Fúlvio Celso
Petracco. Ainda o Sr. Presidente procedeu a leitura do Texto do Título de
Cidadão e concedeu a palavra ao Deputado Estadual Jauri de Oliveira, que
prestou testemunho sobre a personalidade do Homenageado como dirigente
partidário. Em ato contínuo, o Sr. Presidente convidou o Ver. Elói Guimarães
para proceder a entrega do Título Honorifico de Cidadão Emérito ao Engenheiro
Fúlvio Celso Petracco, bem como aos presentes para que, em pe´, assistissem
essa formalidade. Após, concedeu a palavra ao Homenageado, que formulou
agradecimentos a todos que conviveram com S. Sª nos campos estudantis,
profissional e político. E destacou a atuação política desta Câmara Municipal,
expressando sua gratidão pela outorga do Título de Cidadão Emérito. Nada mais
havendo a tratar, o Sr. Presidente agradeceu a presença de todos e levantou os
trabalhos às dezoito horas e cinqüenta minutos, convocando os Srs. Vereadores
para a Sessão Ordinária de amanhã, à hora regimental. Os trabalhos
foram presididos pelo Ver. Clóvis BrumValdir Fraga, e secretariados
pelo Ver.Omar
Ferri, Isaac
Ainhorn, como Secretário “ad hoc”. Do que, eu Omar FerriIsaac Ainhorn, Secretário
“ad hoc”, determinei fosse lavrada a presente
Ata que, lida e aprovada, será assina pelos Senhoresr. Presidente e
pelo 1º Secretário.
O SR.
PRESIDENTE (Clóvis BrumValdir Fraga): Estão abertos os trabalhos da presente Sessão
Solene. Convido os Senhores presentes para ouvirmos o Hino
Nacional.
(Os presentes ouvem, em pé, a execução do Hino
Nacional Brasileiro.)
O SR. PRESIDENTE: Quando se iniciaram, há algum tempo, as conversações de integração da Argentina com o
Brasil, cujos
resultados positivos já se fizeram sentir com o reflexo benéfico sobre a economia do Estado do Rio Grande do Sul, principalmente, um nome despontou desde logo pelo nosso País: o do
Embaixador do Brasil em Buenos Aires, que aqui está, junto à Casa do Povo de Porto Alegre, Dr.
Francisco Thompson Flores Netto.
Esse gaúcho, descendente de tradicional linhagem, desenvolveu o melhor dos seus esforços, da sua inteligência e do seu
talento diplomático no sentido de superar todas as desconfianças que durante séculos mantiveram um tanto distantes o Brasil e a Argentina. Justo, por tudo isso, que os representantes do povo da Capital e do Estado do Rio Grande
do Sul homenageiam, com a mais alta distinção da
Cidade, concedendo-lhe
o título honorifico de Cidadão de Porto Alegre. Seja bem vindo, Sr. Embaixador.
Não vamos agradecer, no momento, tudo o que V. Exª tem feito pelo nosso Rio Grande
porque, no decorrer dos discursos, os Vereadores que
representam as Bancadas
com assento nesta Casa terão oportunidade de fazê-lo.
O primeiro orador é o Ver. Isaac Ainhorn. S. Exª está com a palavra pelas
Bancadas do PDT, PDS, PSB, PL e PFL.
O SR. ISAAC AINHORN: Senhores e Senhoras. Estamos reunidos hoje, aqui nesta Casa, não apenas
para registrar nosso reconhecimento ao profícuo trabalho de representação externa desenvolvido pelo Embaixador Brasileiro na Argentin, Dr. Francisco Thompson Flores Netto, mas também, na verdade, nossa missão é ainda mais importante: hoje devolvemos a Francisco
Thompson Flores Netto a cidadania porto-alegrense de que ele jamais abriu mão, seja por seus laços
familiares, seja pelo que lhe vai no coração.
Quis as circunstâncias históricas que, em função das atividades
diplomáticas de seu pai, o Embaixador Carlos Martins Thompson Flores, nosso
homenageado de hoje
nascesse em Bruxelas, Capital da Bélgica. Mas Francisco jamais abdicou da sua
inerente condição de gaúcho e porto-alegrense. Assim, é com incontida satisfação e alegria que
esta Casa se reúne, hoje, em Sessão Solene, para ratificar oficialmente, através dos atos da Câmara
Municipal e do Sr. Prefeito aquilo que
pré-existia: a condição de Cidadão de Porto Alegre a que tem direito o Embaixador Francisco Thompson Flores Netto.
Meu caro Embaixador. Sabe V. Exª melhor que nós todos, mercê de sua
intensa atividade diplomática, que o direito à cidadania, sem dúvida, é o principal de todos os direitos. Cidadão é aquele que goza o direito de cidade. Termo que vem
da antigüidade, quando a cidade era
um verdadeiro estado. E,
para ser membro deste estado e gozar das prerrogativas inerente à qualidade de
cidadão, era indispensável preencher certas condições
bem determinadas. Na Roma Antiga, o direito civil ou da cidade era, exclusivamente, aplicado aos
cidadão romanos. Os
estrangeiros estavam sujeitos às prescrições do direito das gentes, e a lei
civil nem ao menos garantia os atos jurídicos praticados sob o regime do direito das
gentes. Assim, meu caro Embaixador, a cidadania representava um valor insuscetível de apreciação, tal o seu valor.
Entende-se, portanto, que a condição de cidadania de Porto Alegre,
diferentemente do que ocorre com outros títulos e honrarias concedidos pelo
Município, é dada em circunstâncias muito específicas. Nesta Casa, exige um “quorum” qualificado de dois terços dos votos dos
Vereadores e a concessão é definida através do voto secreto. E, aí, cabe ressaltar que nosso homenageado, aqui
presente, o Embaixador Francisco Thompson Flores Netto, obteve a
unanimidade dos votos dos Vereadores de todas as Bancadas com assento nesta Câmara Municipal, muito, é certo, pelo já destacado trabalho que
desenvolve pelo nosso País no exterior. Mas muito mais, asseguramos, pelo fato de jamais
ter abdicado deste direito de se considerar um legítimo cidadão porto-alegrense.
É uma questão de justiça destacar, também, a figura do autor da formulação de que se ratificasse a
condição de Cidadão
de Porto Alegre do Embaixador Francisco Thompson
Flores Netto. A
indicação partiu do Sr. Governador do Estado do Rio Grande do Sul, Dr. Pedro Simon, um homem que
tem acreditado de forma decisiva no processo de integração da América Latina e
está tendo uma visão
de futuro em função do papel que o Brasil e, especialmente, o Rio Grande do Sul, terão neste processo.
Aliás, meu caro Embaixador, a luta pela integração latino-americano é uma
questão que lhe é muito próxima. Primeiro, pelo trabalho que seu pai, o Embaixador Carlos Martins Thompson Flores,
desenvolveu no final dos anos 40, participando ativamente das tratativas
estabelecida entre os
governos do Brasil, Uruguai e Chile. Depois, pela feliz coincidência de que
coube a V. Exª
continuar esta tarefa, já nestes anos 80, atuando desde 1985, passo a passo, no processo que
levou a assinatura, em Uruguaiana, dos protocolos entre Brasil e Argentina, que encaminham, definitivamente, a integração perseguida por tão longo tempo.
Assim, como seu pai, tem agora V. Exª um papel fundamental, como embaixador brasileiro na
Argentina, na
implementação das medidas que vão concretizar a integração dos países latino-americanos, que despertaram para a necessidade de buscarem soluções conjuntas para os seus
problemas, diante dos novos tempos em que vive toda a comunidade mundial e mercê, também, dos exemplos já oferecidos pelos países Europeus, pelos Estados Unidos e o Canadá. Afinal, com todas
as dificuldades que enfrentamos, nós, os latino--americano, é patente nossa força produtiva e nossa
importância no
contexto internacional. Unir esforços, então, é impositivo. E vamos chegar lá, com certeza. Em especial
por contarmos com trabalhos de homens competentes como Vossa Excelência.
Meu caro Embaixador. Quis a coincidência histórica que coubesse a mim,
indicado pela Presidência desta Casa, comunicar a V. Exª a decisão da Câmara Municipal de
outorgar-lhe o título de Cidadão de Porto Alegre. E justamente quando, em Uruguaiana se reuniam os Presidentes do Brasil e da Argentina, na presença, também, do primeiro mandatário do Uruguai, para assinarem os protocolos que encaminham o passo
definitivo para a integração latino-americana.
Foi muito gratificante, como representante da Câmara Municipal de Porto Alegre, poder fazer-lhe a
comunicação oficial da concessão deste título, num momento em que V. Exª, mais uma vez, desenvolvia papel de fundamental importância para a defesa dos interesses nacionais.
É extremamente gratificante para esta Casa, hoje, nesta
Sessão Solene, retificar oficialmente aquele que é título por direito de V. Exª: Embaixador Francisco
Thompson Flores Netto, Cidadão de Porto Alegre. Muito
obrigado. (Palmas.)
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Concedemos a palavra ao Ver. Clóvis Brum, que falará em nome da sua Bancada e da Bancada do PT, com
assento nesta Casa.
O SR. CLÓVIS BRUM: Inicialmente, quero transmitir à Casa e ao
homenageado que recebi a honrosa incumbência do Ver. Flávio Koutzii, Líder do Partido dos Trabalhadores, segunda maior Bancada com
assento neste Legislativo de representá-la, neste ato, e em nome do meu Partido, a Bancada do PMDB.
Sem dúvida alguma, hoje é um dia muito especial
para a Câmara de Porto Alegre, um momento muito
significativo, porque ingressa na galeria daquelas pessoas que receberam a mais
alta condecoração
honorifica que esta Casa já aprovou, uma pessoa que tem marcada a sua vida nos
momentos mais importantes da representação do Brasil no exterior, que é o eminente Ministro Dr. Francisco Thompson Flores nosso Embaixador.
Dizia o Ver. Isaac Ainhorn que a indicação do Embaixador Thompson Flores
partia do Governador Simon. Eu digo que o Governador ensejou a Câmara de
Vereadores, esta
Câmara com quem ele convive há muitos anos, uma
oportunidade ímpar de que a Câmara de Porto Alegre, a Câmara da Capital do Rio
Grande do Sul fizesse
uma homenagem àquele homem que, diuturnamente, tem prestigiado a integração latino-americana, aquele homem que não tem
medido esforços no sentido de viabilizar estes projetos do Rio Grande e do Brasil, hoje comandado
pelo Governador Pedro Simon. Este momento importante da
minha longínqua Uruguaiana significou a oficialização desta integração unindo, inicialmente, o Brasil, a Argentina e o Uruguai. E não temos
dúvidas, nós, que numa Sessão memorável, em votação secreta, por
unanimidade tributamos nesta homenagem, aprovando a concessão do Título da Cidadania de Porto Alegre a este ilustre homem das relações internacionais
brasileiras.
Sabíamos, Sr. Embaixador, Sr. Governador, que a Câmara de Porto Alegre estava
fazendo justiça a um homem que tem se
dedicado, não só na representação diplomática do Brasil mas, fundamentalmente, nesta tarefa que o Governador Pedro Simon tem se empenhado diuturnamente, qual seja a integração do Brasil com os nossos Países vizinhos.
Pelo trabalho que o Embaixador Thompson
Flores vem desenvolvendo, eu não corro o risco algum em firmar que, efetivamente, Embaixador, S. Exª já é Cidadão da América Latina.
Hoje, a Casa lhe concede um título que já é seu, que há muito tempo lhe
pertencia, pelo que representa a sua família, o passado da sua família, o presente da sua família, o seu trabalho, as suas realizações e, acima de tudo, a sua devoção em bem representar o País e o Rio Grande do Sul.
Governador Pedro Simon, a Casa também é grata e
feliz pela indicação
de V. Exª. Foi feliz o Governador ao indicar
esta oportunidade da Câmara Municipal de Porto Alegre resgatar, através desta concessão, a justiça que se faz ao trabalho
que marcará, que escreverá a história do Rio Grande, a história da diplomacia brasileira,
através da inteligência, da competência, do trabalho profícuo do eminente Embaixador Thompson Flores Netto.
Era esta a nossa participação na
tribuna, era esta a nossa homenagem, Sr. Embaixador, em nome do PMDB e do PT com assento nesta Casa. Muito obrigado.
(Palmas.)
(Não revisto
pelo orador.)
O SR. PRESDIENTE: Com a palavra, o Dr. Tarso Genro, Prefeito de Porto Alegre, em exercício.
O SR. TARSO GENRO: Exmo Sr. Ver. Isaac Ainhorn; Exmo Sr. Ver. Clóvis Brum; Exmos Srs. Vereadores, meus senhores e minhas senhoras. Nós vivemos, hoje, mais do que nunca sob o signo da universalidade.
A humanidade está entrelaçada no seu destino, seja pela eventual tragédia do seu desaparecimento em função de um hecatombe
nuclear, ou seja através das suas relações econômicas, culturais e políticas.
Quem trabalha contra a primeira hipótese, trabalha pela conexão, pela relação, pelo convívio e pela solidariedade entre os povos. E esta solidariedade, se é que
tem as suas nuances éticas e
políticas, tem uma necessária base econômica de convívio que imprime as
outras determinações ao seu destino mais provável.
A iniciativa política do Sr. Governador do Estado ao propor a esta Câmara o nome do
Embaixador Francisco Thompson Flores Netto para
receber o Título de
Cidadão de Porto Alegre inscreve-se nesta preocupação. O Governador Pedro Simon, a quem conhecemos de
longa data, nos priva com a sua amizade e que, de certa forma, políticos da nossa geração somos
herdeiros de sua honradez, da sua seriedade, fez um ato de justiça. Um ato de justiça, porque esta Casa
não poderia tributar uma resposta mais clara, mais
carinhosa e mais aberta ao Sr. Embaixador Francisco Thompson Flores Netto do
que lhe conferir o Título
de Cidadão de Porto Alegre. A cidadania de uma cidade não é apenas a expressão
de um acaso geográfico do nascimento; ela é, sobretudo, um estado de espírito e uma vontade política. Os serviços prestados pelo Sr. Embaixador para a conexão e a ligação
econômica e, conseqüentemente,
cultural, do Rio Grande do Sul com os Países do Cone sul merecem um registro
especial e merecem um
agradecimento de toda uma geração. Uma cidade não é somente os seus edifícios, as suas ruas, o seu rio. Uma cidade é, fundamentalmente, aquilo que o são seus cidadãos. E eu, representando a Prefeitura
Municipal de Porto Alegre, representando, portanto, a Cidade de Porto Alegre,
quero dizer que estamos profundamente orgulhosos deste cidadão que já era da nossa Cidade,
uma cidadão que passa a ser o Cidadão de Porto Alegre, o cidadão que nos orgulha e o cidadão
que será uma referência da própria cidadania futura. Sou grato. (Palmas.)
(Não revisto
pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Vamos fazer a leitura do Diploma.
(O Sr. Valdir Fraga lê.)
Convido o Sr. Prefeito em exercício para fazer a
entrega do Diploma e o nosso querido
Governador para a entrega da Medalha ao nosso homenageado. (Palmas.)
Com a palavra, o Sr. Embaixador Francisco Thompson Flores Netto.
O SR. FRANCISCO THOMPSON FLORES NETTO: Senhores e senhoras, é com grande emoção que compareço, hoje, a esta Sessão Especial da Câmara Municipal de Porto Alegre. A
família Thompson Flores, de longa data tem suas raízes implantadas no Estado do
Rio Grande do Sul e
mui particularmente nesta nobre Cidade. Neste momento, penso em meu antepassado, Thomaz Francisco Flores, cuja assinatura figura
no auto de criação da Vila de Porto
Alegre, em 11 de dezembro de 1810; penso em meu bisavô, Carlos Flores, que foi
Presidente da Província; em meu avô, Francisco Thompson Flores, e em meu pai, Carlos Martins Thompson Flores que, tendo seguido a carreira diplomática, passou grande parte de
sua vida no Exterior. Quis o destino que eu nascesse em Bruxelas, durante o período em que meus pais serviam na
Embaixada do Brasil na Bélgica. Trata-se de uma formosa e histórica Cidade, Capital e de um lindo e interessante País. Estas qualidades, contudo, não são suficientes para eliminar a frustração de quem nasce fora
de sua Pátria e que, portanto, fica sem um ponto de referência para definir sua
colocação no mundo, em outras palavras, sua naturalidade.
Particularmente sempre senti, de forma nítida,
essa sensação de vazio.
Dou-me conta neste momento, durante esta Sessão, que essa indefinição terminou, pois os Srs. Vereadores, ao
me honrar com o Título de Cidadão Honorário de Porto Alegre, por
generosa indicação do Governador Pedro Simon, preencheram completamente esta lacuna. Estou, agora, vinculado à Cidade de minha origem, ao berço de minha família, aquela que
sem dúvida escolheria para nascer se me tivesse sido dada a
escolha.
Creio que merece ser assinalada a circunstância de que esta deferência me é concedida, quando ocupo a
função de Embaixador do Brasil na Argentina. Nestes últimos anos, por força de uma participação intensa em todo o processo de
formulação e execução do programa de integração, atualmente em marcha entre os dois Países, estabeleci estreito relacionamento com o Governador do Estado do Rio Grande do Sul e, especialmente, com o seu atual Governador Dr. Pedro Simon.
Em todos esses anos, partilhei as preocupações pertinentes do
Governo Simon, no
sentido de que este histórico movimento de aproximação entre os dois maiores
países da América do
Sul não se fizesse ao largo ou mesmo em detrimento dos interesses deste Estado, tanto em matéria agrícola, quanto industrial,
e, sobretudo, no campo energético, é sem dúvida indispensável que os interesses maiores do Rio Grande do sul estejam sempre muito
presentes.
Nesse sentido, tenho assegurado ao Dr. Pedro Simon que
o Embaixador do Brasil
em Buenos Aires é um representante pessoal seu e de seu Governo, em todos os
foros em que participei e nos quais os interesses do Rio
Grande do Sul estejam em causa. Assim é, e será muito mais assim, após a cerimônia de hoje.
Finalmente, permitam-me os Srs. Vereadores
ressaltar a honra e o prazer que sentirei quando doravante, ao ser perguntado
sobre minha cidade
natal e meu Estado,
poderei responder: “Sou
Gaúcho, sou de Porto Alegre”. Sou grato. (Palmas.)
(Não revisto
pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Concedemos a palavra ao Sr. Governador do Estado,
Dr. Pedro Simon, que para honra nossa irá encerrar a nossa Sessão de hoje com o
seu pronunciamento.
O SR. PEDRO SIMON: Senhores e Senhoras, perdoem-me os nossos queridos Vereadores e o nosso Prefeito, mas, acima de tudo, o que nós dissemos aqui, está o que o ilustre Embaixador disse. Acho que ele faz uma
análise, profunda e real do que ele vem fazendo em nível de Brasil, em nível de Argentina, em nível de integração da América Latina, em nível de Rio Grande do Sul. Eu agradeço, profundamente, primeiro aos Srs. Vereadores,
quando falei com o Presidente em exercício, o Fraga estava na Prefeitura, e o
Isaac, como Presidente da Câmara, falou conosco lá no nosso
Gabinete, apresentei para ele a idéia e sugeri que falasse com a Mesa e os Líderes porque, realmente, a história que o Embaixador contou da Tribuna, ele
contou a nós da Delegação do Brasil, notadamente do Rio Grande do Sul, quando estivemos em Buenos Aires na posse do Presidente Menem. A argumentação que ele só não acrescentou, e eu vou
acrescentar,
é que na verdade quando lhe
perguntavam onde
nasceu ele dizia: “eu nasci em Porto Alegre”. Achei tão significativo, tão importante que quando
cheguei aqui, na primeira oportunidade que tive, por coincidência, praticamente
dois dias depois falei
com o Ver. Isaac, que depois me comunicava que dificilmente tivesse encontrado
unanimidade tão certa, tão tranqüila quanto esta da indicação do nosso
querido Embaixador, e por unanimidade desta Casa
para Cidadão de Porto Alegre. Esta é, indiscutivelmente, uma das características de quem segue a carreira
diplomática.
Eu tenho uma admiração profunda e extraordinária por esta
carreira, porque é uma carreira de cidadãos que amam a sua Pátria, mas têm que deixá-la e percorrer o mundo em busca das defesas dos interesses da
nossa Pátria.
Percorrer o mundo nos mais variados recantos desde a África, passando pela Ásia, Europa,
América Latina, em defesa dos interesses do seu País. Se há algo do qual nós nos orgulhamos ao longo
do tempo é do nosso Itamaraty. Se há algo que dignifique a esse País é, exatamente, o nosso corpo de representantes das Relações
Exteriores. Diga-se mais, podemos até divergir sobre os mais variados ângulos, como por
exemplo, com relação ao que foi o Brasil pós 1964. Acompanhei isso de perto como Deputado Estadual, mas mais particularmente como Senador da República. Se é um setor que
resistiu, que debateu ao longo de todo esse período, estava avante, defendendo
a integração do
Brasil com os países do Terceiro Mundo,
defendendo idéias realmente a favor da sociedade, em favor desse País, foi o Itamaraty. Às vezes, até seus Ministros de Relações Exteriores, quase que à revelia do que acontecia aqui dentro,
adotavam a política
de avançar, de desenvolver, de integrar, de fazer com que o Brasil tivesse
relacionamento, como teve, inclusive, surpreendentemente num nível de exceção, de recessão
interna, de fechamento interno das
liberdades, mas em nível externo, abrindo fronteiras com vários países, inclusive com os quais não mantínhamos
nenhuma relação: o Itamaraty. E entre esses, o pensamento daqueles que têm o pensamento
avançado, é que se encontra nosso Embaixador Thompson Flores. E tem ele a visão, e tem ele a grandeza, e temos nós que analisar, principalmente nós, do Rio Grande do Sul, que vivemos e que pagamos o preço tão doloroso por
sermos fronteira, preço grotesco, ridículo de que a história haverá de cobrar, de exatamente a nossa região de fronteira com
a Argentina que é onde nasceu o Rio Grande do Sul, que
onde prosperou o Rio Grande do Sul, onde nós temos as nossas origens
históricas, e que foi a um índice praticamente em total, até o momento em que
Buenos Aires, do lado de lá, e do centro do País, do lado de cá, houveram por bem achar que o desentendimento seria
inevitável e que a nossa região de fronteira tinha de parar, porque era uma
região de inevitável
conflito com nossos irmãos argentinos. E nós pagamos um preço caro. Foi o preço da bitola estreita, que foi o preço de
termos, na nossa fronteira, impedido o seu desenvolvimento industrial, de durante centenas de anos enviamos a nossa lã,
pagando o frete da
sujeira para que ela fosse beneficiada em São Paulo, porque era proibido que isso acontecesse na nossa
região de fronteira.
Pois tudo isso, que durante esse tempo todo, ridiculamente, porque temos que acrescentar que, se a integração latino-americana não começou antes, não começou, exatamente, porque o resto da América fica olhando para o Brasil e Argentina para ver o que ia acontecer. Pois nós somos
obrigados a reconhecer que nesses anos que o Thompson Flores é o nosso Embaixador lá, e que
os governos começaram a se integrar, Argentina e Brasil avançaram mais do que
em dezenas e dezenas de anos acumulados buscando exatamente essa integração, buscando exatamente isto que
é a unificação da América Latina, confiar de que isso é viável, entender-se que, para começar, só podia começar com a Argentina e o Brasil. O Uruguai, vem ao natural; o Chile, o Paraguai, o
restante dos países, também vem ao natural. O Embaixador Thompson Flores teve e tem papel
preponderante nesse caminho. Teve papel brilhante na costura inicial das negociações do Governo Alfonsin com o
Governo Presidente Sarney. E, o que é mais importante, lá houve uma modificação, a oposição assumiu a
Argentina, saiu uma tendência e entrou outra, radicalmente contrária, e teve ele a grandeza, a capacidade e a
competência de
coordenar de tal maneira que o Presidente que entra, entra com mais desejo e
com mais vontade dessa integração do que o governo que sai. Não há nenhum processo de
integração nem de dúvidas com relação ao comportamento do presidente Menem. Pelo
contrário, ele está seguindo e querendo avançar mais do que o governo anterior.
A gente sabe que, às vezes, quando um governo novo entra,
geralmente pára para pensar, para refletir, para medir até que ponto foi. E ele
teria todas as condições.
O lógico era imaginar que se teria um tempo – e nós estávamos preparados para
isso – para que o governo argentino refletisse
sobre o que foi feito, fizesse uma análise do que foi feito para que, depois,
avançasse. Pois o Presidente Menem, fruto do trabalho, especialmente, do nosso Embaixador, já no seu discurso de posse
surpreendeu dizendo qual era a sua linha e o seu caminho com relação à integração da América
Latina. E dentro dessa integração, é fácil entender que nós temos que cuidar
para ocupar o nosso espaço, nós, Rio Grande do Sul, porque essa integração pode
ser feita com a nossa presença ou passando por cima de nós. Por isso, a importância do pronunciamento do ilustre
Embaixador quando ele diz – e é verdade – que tem sido, permanentemente, nessas negociações, um
representante do povo do Rio Grande do Sul e do povo de Porto Alegre, para que os nossos interesses não sejam prejudicados. O que quer dizer “os nossos
interesses não sejam prejudicados”? Quer dizer – e é
fácil de compreender se nós não avançarmos, se nós não nos compenetrarmos do papel, nós podemos perder com essa
integração, porque ela poderá ser feita em Buenos Aires – São Paulo e Rio Grande do Sul
poderá se transformar em campo de passagem, corredor de passagem entre os dois
pólos. Evitar isso, impedir a
integração porque isso pode acontecer, é ridículo. Temos que entender, e disse
muito bem o bravo Prefeito Tarso, isso é universal, a humanidade está se
integrando, a cada dia esta se transformando numa ilha global. Cabe-nos fazer a nossa parte: desenvolver o nosso Estado, progredir, avançar, para que possamos sair daquela posição de extremo do Brasil, que nos
impede de ser um Estado desenvolvimentista, em nível de economia, porque o centro econômico
chamava-se Rio/São Paulo, e a partir de agora temos que entender que estamos no
centro de Buenos Aires com São Paulo e podemos buscar fórmula de crescer e
de progredir. Aí, no sentido de defender os interesses do Rio Grande do Sul, nesse diálogo
está o bravo e extraordinário Embaixador. E as primeiras propostas para a ponte de São Tomé e São Borja, onde ainda
ontem, em São Tomé, delegações do Brasil e da Argentina praticamente chegaram a
uma tese
definitiva, avinda do gasoduto é uma
das propostas, a
ligação do Porto de Rio Grande com o Porto de Antofogasta é uma outra proposta, e isso significa esta integração, uma nova imagem,
um novo perfil do Rio Grande do Sul. Quero que o Rio Grande, realmente, perca esse ranço de derrotismo e de olhar para trás e que aproveitasse esse trem, dos muitos que já passaram e
que não tivemos oportunidade, por esta ou por aquela razão, ao longo da nossa história, de apanhá-los, que esse seja aquele no qual entre todo o Rio
Grande do Sul.
Por isso, a esta Câmara de Vereadores tenho muito
carinho, muito respeito pelos seus Vereadores, pelo que representam, pelo dia-a-dia, e pelo esforço que representa uma Cidade dinâmica, altamente politizada, com seus conflitos e suas dificuldades, como é Porto Alegre, ao prezado Prefeito, pelo qual tenho um carinho e respeito muito grande, por
ele e pelo Prefeito Olívio Dutra. Estão fazendo uma gestão digna, séria, esforçada, dinâmica,
procurando em meio às dificuldades do dia-a-dia que estamos vivendo honrar e dignificar a Cidade de Porto Alegre. Ao nosso Presidente da Câmara, pelo esforço que
vem fazendo para que não apenas a seriedade, a dignidade e a dinâmica dos trabalhos, mas,
também, para que o espaço que esta Casa ocupa se
transforme no espaço que ela tem direito. Dirijo-me, de modo muito especial a V. Exª, Sr. Embaixador,
que é, foi e será, tenho certeza, um orgulho de Porto Alegre. E diz bem, agora, com este título que oficializa
aquilo que já é: um
honrado filho e um honroso filho de Porto Alegre. Eu não tenho qualquer dúvida em dizer que, muitas vezes, os Senhores podem ter, em suas decisões, aumentado o crédito e o valor mas, dificilmente,
tenham aumentado tanto quanto hoje, quando poderão dizer ao se referir, hoje, ao brilhante Embaixador nosso em Buenos Aires, mas
com sua carreira e seu futuro dizer que ele é aqui da Cidade de Porto Alegre.
A S. Exª, em nome do povo e em nome do Rio Grande
do Sul, eu quero agradecer por tudo o que fez, pela intenção, pela sinceridade, pelo
esforço, pela dedicação, e eu tenho certeza pelo muito
que irá fazer pela integração Argentina e Brasil e
para que, dentro desta integração, nós, do Rio Grande do Sul, tenhamos o espaço a que temos direito. Muito obrigado.
(Não revisto
pelo orador.)
Está com a palavra, o Ver. Leão de Medeiros, pela
Bancada do PDS.
O
SR. LEÃO DE MEDEIROS: Meus Senhores e minhas Senhoras.
Nada mais agradável em exaltar em meu nome pessoal e da Bancada do PDS as
virtudes do homem de bem sobretudo quando, na atividade política, o homenageado
se situa em terreno diverso do orador, não raro a ele oposto. Pois se no elogio
do correligionário pode surgir e permanecer a dúvida quanto a autenticidade do
louvo, talvez mais inspirado na irmandade de convicções que o mérito real, no tributo prestado aos
militantes de outras grei a homenagem brota sincera, proclamando a satisfação
de reconhecer que as divergências não elidem o reconhecimento do mérito que comunica
dignidade e valor ao próprio antagonismo das idéias.
Assim
é o homenageado de hoje na meritória iniciativa do Ver. Elói Guimarães. Firme
nas suas convicções, pugnaz nas atitudes, brilhante no pensamento e na palavra,
íntegro na conduta e, sobretudo, elegante no trato dos opositores, que com ele,
sabe afastar do plano pessoal a divergência das idéias.
Na
realidade, são duas as imagens que ostenta, numa combinação rara e difícil:
Petracco, o político atuante e Petracco, engenheiro destacado. Com o mesmo
empenho que se põe a analisar a realidade social e política, com a mesma
percuciente capacidade analítica que mobiliza no debate do Estado, da Sociedade
e da Nação, logrou construir uma das mais sólidas reputações profissionais no
cenário local e nacional, de engenheiro especializado em, tecnologia da energia
e sua conservação, estabelecido com escritório em Porto Alegre e Pernambuco. No
cenário local, afora inúmeros profissionais de arquitetura que se socorrem de
seu assessoramento no projeto, conta entre seus clientes com algumas das
grandes empresas locais como os grupos Gerdau, Zafarri e Do Sul; no âmbito
nacional, tem projetos executados em Pernambuco, no Pará, em Minas Gerais, no
Rio de Janeiro em São Paulo; já ultrapassa os limites no Brasil, ao negociar
recentemente, na Alemanha, o “Know-how” de um de seus projetos de refreadores
evaporativos.
Como
empresário, é responsável técnico, diretor e acionistas de uma empresa
especializada em cordoaria pesada para atração de navios, sediada em São
Leopoldo, exportando regularmente para as nações que exploram o petróleo do Mar
Norte, para a Grécia, a Holanda, o Chile, Cingapura, a Índia, a Itália e a
Inglaterra, em acirrada disputa com a concorrência internacional, que vem
enfrentando com alta qualidade de seu produto, o qual tem reiteradamente
superado recordes mundiais de resistência, medida em número atrações de grandes
navios, a que o cabo resiste incólume.
Nascido em Passo fundo, tem
origens italianas e espanholas. Seu avô paterno, João Baptista Petracco nasceu
em San Vito de Tagliamento, nas proximidades de Udine, na Itália
Setentrional; sua mãe, Argentina, descendida de espanhóis e guaranis. É, pois,
na etnia, a síntese do Rio Grande do
Sul.
Nosso
homenageado é um homem profundamente marcado pe educação que recebeu
influenciado pelos mestres que encontrou: guarda, com grande carinho, a figura
marcante do seu curso primário, no Grupo Escolar Protásio Alves, em Passo Fundo
– a Diretora – que até hoje visita – D. Maria Súria Dipp, a qual, ainda fazendo
as vezes de segunda mãe e preceptora, escreveu-lhe uma carta, em 1986, que
guarda como um documento maiôs valioso de
sua vida, pelo que contém de sábio e de comovente.
Em
Porto Alegre, no colégio Nossa Senhora das Dores, encontrou na figura admirável
do Irmão Bento, o impulso para os livros, que não mais o deixou, a partir da obra de José Ingenieros, em “As
Forças Morais” e o “O Homem Medíocre”. No Colégio Júlio de Castilhos
encontrou,, no Mestre de Química, Abílio Azambuja, outro alicerce de seu futuro
perfil de engenheiro. Ingressou no Curso de Engenharia Mecânica e Elétrica, da
Escola de Engenharia da UFRGS, lá privando com os educadores
notáveis, como Alquindar Pedroso e David Mesquita da Cunha e, também mercê de
sua presença na política estudantil, cosntg5uinbdo grande
apreço e admiração pela figura extraordinária que foi o Reitor Elyseu Paglioli.
Mas, curiosamente, atribui sua inclinação para a área de energia de um mestre
da matéria mias próxima da Engenharia Civil
- o Professor Luiz Duarte Viana, cujo enfoque sobre a estabilidade das
construções, a partir do conceito do trabalho virtual, de alguma forma levou o
jovem Mecânico e Eletricista a sintetizar sua visão no programa de energia.
Diplomado,
ingressou, em 1963, por concurso, nos quadros da Petrobrás e prosseguir, ao
mesmo tempo, na militância política que iniciava no ciclo secundário de sua
educação. Segundo diz, com o humor fino que põe até mesmo em sua auto
avaliações, ingressou na política instado a “combater os comunistas”, mas
acabou contaminando-se ao menos de uma forma atenuada de vírus...
No
ano de 1964 o colhe Suplente de Deputado Estadual pelo PDS. Cassado logo em
abril de 1964, só vai ter seus direitos políticos restabelecidos pela anistia
de 1979. Atravessou com coragem e convicção os anos de provação, talvez porque,
ao olhar para este passado, não veja o que censurar-se, sabedor de que arrostou
com dignidade os tempos adversos e usou a experiência para agradecer-se sem
ressentimentos e sem ódios, granjeando o respeito e admiração até mesmo de
muitos adversários. Afastado da política, voltou-se integralmente para sua
outra paixão, permitindo que, de sua inteligência e labor, surgisse o grande
engenheiro em que se transformou (o que segundo um de seus antigos mestres na
escola der Engenharia não deixa de seu um mérito indireto a crédito dos que o
baniram temporariamente da distração política, prejudicial aos desígnios de
engenheiro que bradava por emergir de sua complexa e agitada personalidade...)
Porto
Alegre, ilustre engenheiro, o faz neste momento, Cidadão Emérito. Nesta
distinção está, mais o projeto ao profissional ilustre, mais que o tributo ao
político coerente e fiel às suas convicções. Está o reconhecimento daquilo que
foi reconhecido daquilo que foi retirado no início desta palavras: a grandeza
do homem de bem, que sobrepujou a adversidade abrindo, com coragem e dignidade,
novos rumos para a sua vida, sem permitir que o veneno do ressentimento o
limitasse no mesquinho realimentar do ódio que é uma desculpa para a paralisia e o medo! (Palmas.)
(Não
revisto pelo orador.)
O
SR. PRESIDENTE: Ver. Flávio koutzii, que falará
em nome da Bancada do PT.
O
SR. FLÁVIO KOUTZII: Não poderia começar sem
registrar, porque acho que é uma pequena singularidade, neste momento,e um dos prazeres da vida, que são esses
reencontros e estas situações. Eu também fui da FEURGS, na época em que tu
começavas a liderar um movimento estudantil combativo-nacionalista e corajoso e
que enfrentou, sob a inspiração e a liderança de Petracco, nos anos de 1964 e das
lutas da legalidade. Me parece que faz muito tempo, e, ao mesmo tempo, que faz
pouco tempo, porque, em parte, a cassação das nossas vidas, as obstrução dos
caminhos dos democratas, dos homens e mulheres de esquerda neste País, nos
permite, recém nesta década, assumir, publicamente e plenamente, a
potencialidade de nosso sonhos, de nossa capacidade de trabalho e de nossa
capacidade de luta. Acho que a intervenção do Ver. Leão de Medeiros, que me
antecedeu, foi muito precisa e adequada, tanto quanto refez e recontou a
biografia, pessoal e profissional, do Petracco, quanto, de forma muito honrada
e elevada, distingui-se a diferença ideológica que realmente existe entre
homens que hoje se definem e no passado também, em terrenos opostos nas vias e
nos caminhos da construção deste País. É uma demonstração de respeito e é uma
demonstração de lucidez. Mas eu quero falar como irmão de esquerda. Quero falar
com aquele que representa o partido dos Trabalhadores nesta cerimônia, que é um
dos resultados dos nossos comuns esforços, das nossas lutas e de momentos
muitos difíceis; e ressaltar que o que é justamente singular, o que talvez seja
o que mais possa-nos emocionar e dar relevo às cerimônias que as vezes são um
pouco formais, é isto que não acontece todos os dias, é o reconhecimento
gradual, incontestável dos méritos de quem mérito e não mais da seleção dos que
tem mérito apenas quando estão num campo determinado da posição social. Para
nós é uma honra e uma satisfação, um momento de fraternidade trazer a palavra do
Partido dos Trabalhadores, de reconhecimento da trajetória de Fúlvio Petracco e
de, fundamentalmente, destacar o que é evidente, que o que se reconhece nele é
o caminho feito, como militante do povo. Ele foi e é engenheiro, mas entendemos
que foi e é e será sempre, um lutador das causas populares. Esta grandeza, este
esforço e esta generosidade é que são, no nosso entender, o que principalmente
se reconhece hoje. . E quando a Cidade começa a
reconhecer isto, através da sua representação política que somos nós, significa
que ele agrega, ao universos dos seus valores, na identificação do que é
importante, o mérito doas caminhos feitos, o mérito do caminho que tu fizeste.
É isto que se reconhece aqui, é isto que a Bancada do Partido dos Trabalhadores
saúda, através da nossa intervenção nesta tribuna e é neste abraço que nós
queremos te estender, Patracco, nosso companheiro. Sou grato. (Palmas.)
(Revisto
pelo orador.)
O
SR. PRESIDENTE: Com a palavra, o Ver. Omar
Ferri, pelo PDS, pelo PCB e pelo PC do B.
O
SR. OMAR FERRI: Sr. Ver. Clóvis Brum, 2º
Vice-Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre; Dr. Tarso Genro, Vice-
Prefeito da Cidade; Engenheiro Fúlvio Petracco, nosso querido homenageado;
excelentíssimo Deputado Jauri de Oliveira, Líder da Bancada do PSb na Assembléia
Legislativa; Srs. Terezinha Petracco Grandene,
irmã do nosso homenageado e representante dos demais familiares; Srs.
Vereadores aqui presentes; minhas Senhoras, meus Senhores e de um modo especial
e com muita satisfação aos companheiros do PSB, cuja militância em sua quase
totalidade veio trazer os eu abraço a sua saudação e a sua
solidariedade àquele que simboliza o que significa e dá forma e conteúdo ao
próprio Partido no Rio grande do Sul, Sr. Fúlvio Celso
Petracco. Eu não sei se é fácil ou difícil dirigir algumas palavras nesta tarde
ensolarada, nesta solenidade que para nós toca profundamente o âmago de nossos
corações. Porque par anos do Partido
Socialista o Petracco realmente simboliza o próprio Partido no Rio Grande do
Sul. Muitas vezes tem pessoas que fazem confusão com o PDS e se referindo Amim dizem – tu
é do PSDB do partido do Petracco – a aí as cosias se esclarecem. Mas, a
homenagem é acima de tudo a um Engenheiro competente, a um profissional
brilhante e a um homem condutor e de uma postura ideológica sem par em nosso
Estado. Eu digo sem par porque são dezenas de anos que o Petracco vem
magistralmente nas lutas em favor da nacionalidade Brasileira.
Então me parece que aí está maior lição do Petracco
para todos nós. E eu até falo com muita tranqüilidade, razão porque agora vou
fazer um esclarecimento, Petracco, a ti,, ao público,
ao dizer que eu vinha registrando até os dias de hoje mas acho que este é o
momento solene, este é o momento que eu devo te agradecer na medida exata de
tua grandeza. Eu resisti a entrada no PSB, por causa da imagem de certa gente
que te apontava como autoritário dentro do Partido, eu vinha resistindo, eu
inclusive já vinha colaborando com o Partido, mas não assinava ficha. E de
repente por estas contingências da vida eu devo a assinatura da ficha de
filiação a um grande irmão e companheiro nosso que infelizmente hoje não se em contra aqui,
que é o Dr. Bruno Mendonça Costa. E passei a conviver contigo dentro do Partido
e posso dizer tranqüilamente, de público, que eu não sei muitas vezes se
constrói imagens diferentes do próprio sentimento e do próprio comportamento de
uma pessoa. E esta foi a tua imagem durante algum tempo, Petracco: O
autoritário. Não sei como é e porquê,s e durante
todas as reuniões deste último ano e meio que eu convivo com a direção
Partidária, em nenhuma vez eu assisti que tu tivesse tomado uma atitude fora do
contexto e do consenso de todos nós. O SR. PRESIDENTE: Nada mais havendo a tratar, declaro encerrados os
trabalhos.
Estão encerrados os trabalhos.
(Levanta-se a Sessão às 18h4034min.)
* * * * *